sábado, 24 de julho de 2010

O MACACO CHICO

No meio da Amazônia, em alguma palafita
Nasceu onça-pintada, nasceu jaguatirica
Nasceu anta e tamanduá-bandeira
No meio desses bichos, também macaco-prego
Que é muito feio, mas não é chimpanzé
Não sei lá na África, mas nessa floresta
Em rio que tem piranha, quem nada de costas é jacaré

Aquele pequeno primata
Com nome de santo foi batizado
Francisco de Assis,
Chico para os mais chegados
Na escola renegado, rejeitado, desprezado
Um malandro miserável e todo pretinho
Havia preconceito com o adolescente ladrãozinho
Que para fora do Brasil fôra extraditado

Na Bolívia foi aceito
Mas teve que trabalhar
A agricultura fez brilhar os olhos
O macaco começou a traficar
Nunca foi inocente,
Embora o grande coração
De longe sustentou a mãe
Até o dia em que ela dormiu em um caixão

Enquanto ela estava viva,
Esbanjava muito luxo
Graças a cocaína e a cannabis sativa
Muita grana, muito dinheiro sujo
Então, depois de muito tempo
Rico, descansando ao relento
Com a mãe já enterrada
Decidiu dar uma virada

Para terra do carnaval
Veio macaco, preto e mal
Chico resolveu voltar
E no topo da Rocinha foi morar
Em um barraco muito maneiro
Conhecendo o Rio de Janeiro
Se adaptar não foi muito difícil
Já tinha na manga preparado o artifício

Líder maior do tráfico
Mandando até em Federal
Transportava a droga com menor
Até uma certa noite de Natal
Uma emboscada foi armada
No passeio com a namorada
Com tiro de um honesto policial
Morreu o macaco-prego, lá em Vigário Geral


autor: Kico Toralles
2001 (para Tribufábulas)

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