terça-feira, 27 de julho de 2010

MEMORIAL DE UM ABRIGO PROVISÓRIO

Houve vez andarilhos
Num passado vil e distante
Que da vida marginais sem brilhos
Fizeram papel de homem errante

Fugidos da cabeça dourada
Destino à neutralidade do sul extremo
Onde alojariam o esconderijo-morada
Fixando-se em inóspito terreno

Trouxeram consigo cavalo, facão
E o resto do desejo de viver
Amarrado no espesso cinturão
De cada um desprezível ser

Ao chegar nos charcos sulistas
Foram invernalmente recepcionados
Pelo frio que atemoriza os paulistas
Ou os que saem da Corte desavisados

No cair da gélida noite
Hades carrega uns consigo
Anunciando tenebrosamente com afoite
Necessidade de provisório abrigo

O astro do dia acalenta novas esperanças
E a Mãe Natureza perde vultosas filhas
Constróe-se elmos, escudos e lanças
Protetores imóveis daquela tropilha

Troncos-escudos fizeram paredes
Palha-elmo na cobertura
Frio-lança no Sol poente
E aos que no trajeto ficaram, oração pró-sepultura

Dias, meses, ano e mais ano que se passou
Nada se perdeu, nada se criou
De provisório em permanente tudo se transformou
Dos bovinos o couro aqueceu e a carne alimentou
Da água próxima, a sede se saciou
Mas para quem tem vida fácil, o local não encantou
À terra dos bons ares, o vento os destinou
Porém vazio resguardo, naquele solo foi só o que se restou


autor: Kico Toralles
16 de Março de 2004

Nenhum comentário:

Postar um comentário